Não há espaço entre a memória e não há carícias de penas desfalecendo dos corpos antigos enquanto os pássaros abandonam as suas vestes e se transformam nos fantasmas antigos da dor e da solidão.
Não há caminhos alternativos para além daquele que ecoa no deserto inteligível de um deus menor fingindo-se arquitecto de castelos de areia. Povoamos as ruínas de um projecto abandonado às vagas da multidão anónima. O deus desertor esqueceu-se de nós entre elas e foi construir para outro lado qualquer.
Ao meu lado repousam as pás e os baldes, as bolas de sabão e os espelhos partidos, os berlindes e os dentes-de-leão. Enquanto escuto a melodia eterna da caixinha de música a bailarina fragmenta-se no seu palco minúsculo e transforma-se em lágrimas de luz…quem chora é porque viu o que quer que seja muito melhor.

11 comentários:

Carla disse...

Apenas vim agradecer a tua visita no meu canto , aproveitei e andei a bisbilhotar por aqui e gostei imenso dos teus textos , são textos com sentimento , com um pouco de incompreensão para com a mundo mas muito bonitos !!

Parabéns e obrigada!!

bjs

Cruztáceo disse...

Na Incompreensão dos deuses, e na criação humana, há espaço para a devoção que de nós emana.

bono_poetry disse...

...more for me with an eye in the world...lets try to be diferent!!!

~ Marina ~ disse...

Fragmentos de dor e beleza em teu texto, senti-o na alma!

Uma boa semana!

Beijos!

Mariana disse...

É-nos difícil entender a existência daquilo que não vemos mas que dizem que existe, que não sentimos mas que está lá.

beijinho

Pierrot disse...

Quem chora é porque já esteve num mundo melhor.
Quem chora é porque aspira a um tempo melhor.
Tinha saudades sim, voei mas regressei amiga e cá me tens.
Bjos
Eugénio

Ly disse...

Um sussurro...

... disse...

Uma vénia.

Luna disse...

Não sei se foi Deus que nos esqueceu, ou nós que nos afastamos Dele
Temos o livre arbítrio das decisões, e quase todas elas cada vez mais se afastam
Da recta conduta

beijinhos

* Lília * disse...

Teus textos e imagens me seduzem, pois são incomuns. Atrai-me imensamente o que não é comum.

Beijos de mar!

Porcelain disse...

Que as memórias se arrecadem sem espaços pelo meio, para que o presente, o futuro e o passado se não confundam... que libertador é ter a mente em ordem!!

Que bom quando a dor e a solidão se transformam em fantasmas antigos, fantasmas de corpos antigos...

O caminho mais agreste é quase sempre o melhor caminho, parecendo às primeiras obra de um qualquer deus menor, construtor de castelos de areia... mas na verdade é o mesmo Deus de tudo o resto, o do amor e das coisas belas...

Povoamos ruínas... já que o que se constrói imediatamente inicia o seu processo de destruição... se é matéria, é ruína...

A multidão esquece-se do indivíduo e sendo assim é da ordem natural das coisas que acabe esquecida também...

Quem chora é porque viu o que quer que seja muito melhor... chora de comoção e esplendor pela perfeição daquilo que inicialmente parecia tão imperfeito...