...ontem adormeci sobre uma almofada de pesadelos e quando acordei ainda estava sobre ela. De nada valeram as páginas agradáveis das vidas dos outros, em que tudo o que parece só acontecer aos outros serve de lenitivo para as nossas próprias mágoas. Entre cada vírgula ou ponto final espreitava o caos do dia a seguir… e de mais outro, e mais outro e por aí fora.
...ontem usei chapéu e gabardine enquanto caminhava sob uma intempérie de sobressaltos, pequenos tornados sísmicos que partiam de dentro de mim. Tempestades anatómicas de passos lentos ao mesmo tempo que o quotidiano assumia velocidades fora de série. Fiquei parada a meio da passadeira mesmo com o sinal vermelho para mim. ...ontem enquanto acordava no início do dia morria um pouco mais relativamente ao amanhã. Parece que fazia sol lá fora e a pele que envergo arrepiava-se de deleite em choque com a tormenta nascida dentro de mim. Estava presa ao medo de saber que o Agora de então era o único momento que conhecia.
...ontem vivi ao contrário deitando os ramos às raízes e fazendo nascer de mim os frutos debaixo de terra. Risquei o céu que me devorava em palavras com formas de grades e de chaves…sem fechaduras. A inutilidade de conhecer-se as soluções é a doença dos que não querem agir.
E hoje, quando acordei, ainda estava plantada ali.

8 comentários:

as velas ardem ate ao fim disse...

Eu morro todos os dias.

um bjo

as velas ardem ate ao fim disse...

um bjo e boa semana

António Silva disse...

É aquela altura na vida da pessoa em que tem de se tornar o herói na sua própria história...
Dificil é começar...

Lágrimas de Sangue disse...

A morte espera aqueles que nela depositam a esperança de assim resolver todos os problemas, mas é só o inicio de um ciclo...

O prazer de viver, depois de libertado é viciante, eloquente...

Lágrimas de Sangue disse...

A morte espera aqueles que nela depositam a esperança de assim resolver todos os problemas, mas é só o inicio de um ciclo...

O prazer de viver, depois de libertado é viciante, eloquente...

Porcelain disse...

As almofadas de pesadelos são almofadas de sonhos que por vezes se transformam em pesadelos... mas depois transformam-se em sonhos outra vez...

O caos do dia de hoje aperta-me a garganta impedindo a passagem do ar... e mesmo assim, permaneço viva... ou será que não? Terei morrido e não dado conta?? Mas dói... e se dói... dizem que se dói estamos vivos, mas não sei...

O caos de amanhã, não consigo pensar nele, é demasiado o peso, quase me esmaga como se eu fosse um insecto aborrecido.

Não tenho qualquer protecção contra as intempéries de sobressaltos, sismos e tornados... se sou eu mesma quem se atira para elas sem conseguir impedir-se!!

Que estranha força me move... que estranha força me move!!

E as tormentas que me revolvem as entranhas... cada vez mais dentro de mim!! Tempestades anatómicas!!! E páro, tenho de parar, não me chega o ânimo murcho para mover tempestades dentro e em simultâneo manter o mundo a girar fora... páro... e o mundo pára de girar e cai-me na cabeça... pago um preço alto por parar e pelas tempestades anatómicas das entranhas...

Queria viver ao contrário... talvez para lá caminhe... talvez já viva ao contrário até... mas é ainda tudo tão ténue...

Arábica disse...

Já sabes que gosto muito dos pensamentos e sentires das Teias :)


um bom domingo, nem que seja necessário virá-lo do avesso.


beijo

@martasta disse...

Não será altura de lutar contra tudo isso e seguir uns quantos sonhos?

bjca