….nunca consegui encontrar o início da minha alma ao mesmo tempo que o seu final se encontra limitado nos precipícios que acompanham estes passos…danço a instabilidade como mais um fio solto da minha mente perpetuado através da acção destes membros entorpecidos e anoitecidos para a luz lá de fora…consigo caminhar o suficiente de olhos fechados e gasto o Tempo entre dois intervalos de café e de palavras acesas na febre da realidade…consumo doses ausentes de sonhos e não sei quando acordo nem sei quando adormeço no limiar das horas...sei que chego sempre atrasada a qualquer esquina mental e sei que nunca digo o que deveria dizer......há palavras que são a chave e o tesouro dentro da própria gaveta da (in)sanidade mental da minha máscara...
...a caixinha de música onde fechava os meus sonhos e libertava em forma de transparentes bailarinas delicadas colapsou sobre o meu corpo em ruínas e combustionou-se em labaredas distantes nas quais o papel da alma assemelhava-se a rostos disformes prolongados num único grito...
...hoje sentei-me à janela de mim mesma e desenhei nos vidros embaciados da alma percursos infinitos e ângulos sem nome enquanto descobria que é o desconhecido que me chama pois criei aversão aos nomes, aos rótulos, aos conceitos, à rotina, ao esperado...
...queria andar ao contrário do movimento do compasso e traçar rectas e mais rectas e rectas em vez de círculos que me levam sempre ao ponto de partida...melhor seria deitar fora o compasso mas esse corpo frio que controla sou apenas eu e apenas eu quem pega nele sobre a folha amarrotada da vida...
...continuo sentada enquanto choram lá fora as nuvens e as pessoas misturadas num nevoeiro enregelado, numa massa compacta e acrílica que perdeu o brilho verdadeiro de tanto se sobreporem em camadas e mais camadas de vida, de palavras, de sons, de relações, de desejos e de sonhos...
...quero a matéria primitiva e original que foi o barro de outrora e moldar-me de novo, corpo e alma renascidos, e olhar o mundo como se fosse a primeira vez...
...preciso...
...anoiteci com uma mão cheia de estrelas vazias e os ossos da alma enregelados com o peso oco do abraço perdido que este corpo ainda tenta dar como possível disfarce do que se passa aqui dentro......lá fora a vida esgota-se, à minha frente, em velocidades de neons desequlibrados e gritantes, vertiginosos corpos que se entrechocam empurrando-se apenas mais um passo para o vazio...num dia a menos no dito calendário da vida...
...cá dentro, a tempestade abriga-se da cura. Cá dentro, ela alimenta-se dos últimos recursos que um ser desconhece que ainda tem...e observo-me, a mim própria, esgotando-me nas reservas que restaram para fazer o corpo andar, estender a mão, falar...fingir...fingir...fingir...fingir...fingir...mais um dia...só mais um dia...e ainda mais outro dia...
...deixei de acreditar no sagrado e no profano, deixei de acreditar no que o Homem cria para ter de acreditar em algo e não se sentir desterrado num canto qualquer do Universo, como fruto do acaso, como erro natural de poeiras cósmicas, no momento errado, no local errado, num encontro ex machina qualquer...
...deixei de acreditar nas asas brancas e nas asas negras que tentam o homem e a mulher quando percebi que é o seu coração que ora voa na escuridão ora plana na luz...deixei de acreditar na fraqueza e na força ao mesmo tempo, quando o corpo se desmembra em compassos de apatia solene, quando o corpo desmaia sobre a alma e quando a nossa consciência paira sobre essa ruína...
...simplesmente deixei de acreditar...
...as primeiras palavras não foram palavras foram sombras e foram luzes pintadas em almas em bruto acabadas de nascer. essas palavras não nasceram interpretadas nem vestidas de significados não tinham símbolos escondidos em cada canto do seu ser e quem se deparava com elas surprendia-se com o seu estado de primitivez. as primeiras palavras soavam a ecos de qualquer coisa que já se tinha pretendido dizer ou escrever ou ouvir mas o silêncio era sempre mais forte e mais pesado e o corpo afundava-se nele como âncora em alto mar e em queda livre. as primeiras palavras amarraram o ser à alma e a alma ao resto do mundo...













