...não olho para trás. não quero ver. não quero sentir. não sei querer...
...se houver quem olhe por mim não agradeço ao final do dia nem da noite. nem me lembro quando a sombra desaparece na frincha da alma recortada contra-luz. nem as orações são mais do que elementos da frase. e os milagres resultam de existir ainda mais um dia. não de toda a eternidade...
...as palavras sabem a hóstias sagradas. colam-se ao tecto do mundo e não limpam os pecados. mas souberam estar lá. as mãos impregnam-se de óleo de mudar as rodas da vida. mais um furo no caminho. começo após recomeço. paragem após paragem. alma sobresselente cada vez mais pesada. e o macaco somos nós...
...enrolo-me nas engrenagens do tempo. despertam-me penas amargas em vez de braços. de cada vez que escrevo voo distante da costa de mim. atrás de mim tudo o que sou. à minha frente o abismo flutuante da lágrima atirada da torre abaixo...
...por isso de cada vez salta um anjo em meu lugar...e ainda não chegou o fim do mundo...

3 comentários:

bono_poetry disse...

...os anjos fazem falta!!!

Phantom of the Opera disse...

Está perto, terrivelmente perto...

Beijo

Porcelain disse...

Querer dói tanto... talvez doa porque não sabemos querer... talvez doa porque não estejamos a seguir um qualquer protocolo do querer, daqueles cuja existência visa nivelar-nos a todos e, tal como a pior das dores, sugar-nos a alma... para assim, talvez, evitar a dor, mas... valerá a pena? Vender a alma dessa maneira só para não doer?

Não me importo de olhar para trás. Olhar para trás é olhar para a dor de frente e isso faz-me sentir segura... a dor é o último reduto daqueles que mais nada podem fazer...

Existir por mais um dia neste mundo louco é, só por si, um milagre...

As palavras sabem a nada, porque nada são sem o nosso sentir, o sentir que lhes colocamos quando as proferimos, o sentir que lhes damos quando as deixamos encontrar lugar na nossa alma...

As palavras proferidas pela alma pesada, impura, não limpam os pecados, apenas os criam, ainda que inocentes...

Alma sobresselente sobre alma sobresselente... um dia chegará à alma original.

Os mecanismos do relógio do tempo perfuram-nos e rasgam-nos, dilaceram-nos e fazem-nos esquecer de nós... tiram-nos da vida para fora, esquecemo-nos do sabor do que é viver...

De cada vez que escreves afastas-te um pouco das encostas de ti, mas... o amontoado de escrituras levarte-á a ti mesma...

Meu Deus, e o resto é melhor calar-me, como de costume...

"Atrás de mim, tudo o que sou. Á minha frente o abismo flutuante da lágrima atirada da torre abaixo..." Uau...

Anjo és tu, minha querida, com esta escrita maravilhosa, que me inspira!!! Vê lá se eu sou capaz de escrever assim da minha cabeça??? Não sou!

Caro bono_poetry:

Também eu adorei tudo o que li teu!! Sobretudo adorei de verdade aquela "dança" entre os teus textos e os da Su... complementam-se tão bem!!

Please, do continue!!!

Bjokas aos dois!