...afundo-me no total estado de consciência que me arrasta noite fora por entre sinais de sentido proibido e de beco em saída. Sei quantas estrelas povoam o meu céu nocturno e quando fecho os olhos o rasto do seu brilho continua a alertar-me para a minha estranha lucidez. Os ruídos e os fantasmas dançam à minha volta numa total amplitude orgíaca e surrealista...voam as palavras entre os cantos (in)dementes do meu pensamento. Entrecruzo-me, fugindo, pelos fios da teia e esqueço-me de que a aranha sou eu. Eu que teço, eu que esqueço, eu que corto, eu que persigo, eu que fujo, eu que reconstruo, eu que uso, eu que caio, eu que destruo, eu que me levanto, eu que me reconheço perante o espelho nos olhos dos outros. A imagem que eles encontram, por detrás deles, sorri-me enganadoramente. Sombra matreira e maquiavélica que não me abandona nunca. Falso anjo que pinta as asas de branco...as asas de plástico que comprou numa loja de esquina, para substituir aquelas que se queimaram por tanto querer.
Milhões de pensamentos iluminados e obscuros em trânsito caótico, buzinando às horas que passam, sem fim a não ser aquele que se faz anunciar pela estrela da manhã. Milhões de rastos de frases debruçados na varanda do meu cérebro, apontando o meu contínuo pestanejar. Enrolo-me nas falsas asas; incómodas falsas asas...
Entrada interdita a falsos anjos.
E eu que só queria apenas adormecer...

5 comentários:

bono_poetry disse...

adorei...


...anjos que maquiavelicos largam sorrisos celestiais sem contemplacoes...furtam sonhos trocando-os em espaco negro...gosto de anjos...mesmo os mais negros...expressivos riem das tristezas...pintam historias reais sem pensar...envolvem pequenas borboletas sem teias...enredam deuses e princesas...conquistam mundos sem armas...sao negros e ninguem os ve!!!

Susana Júlio disse...

...deixam-se ver escondidos pelo negro que anunciam ninguém acredita. afirmam ser o que são com o dito sorriso que vestem como a mentira descarada e autêntica perante o olhar incrédulo dos outros...armadura e arma encantadas que nunca enferruja mesmo que submersas nas mais ímpias lágrimas...e nessa teia enrolam e enrolando-se não encontram o dó nem a piedade, a satisfação ou a dor...sentem-se insensíveis e doridos...impotentes e poderosos...manifestações alegóricas de contrários em imortal combate. Aleijam os contornos da alma dentro de si mesmos...ferem-se em arestas cortantes das asas ponteagudas e descobrem tantas vezes que não sabem porque agem assim...tão bem e tão mal...

bono_poetry disse...

satisfazem-se sim...na noite das almas que despojaram...sanguessugas do espirito...vivem entre mundos...esgotam as reservas de um novo acordar...esqualidos esqueletos revestidos de pouca pele...aguardam silhuetas de alma fraca...disformes e sem coracao...invadem-nas amando-as sem interesse...esgotam suas principais defesas...amam e mordem o beijo...querem tudo e famintos aguardam entrega total...a sede das vitimas e tanta quanto o deserto das suas vontades...nao queimam...aquecem...nao matam ...devoram e saboreiam almas...sao intocaveis...vivem entre mundos!!!

Phantom of the Opera disse...

Vagueio pelas ruas da cidade escondido nas sombras das ruas frias.

Sem sangue que as sanguessugas já sugaram até à última gota.

Gostava de adormecer em paz.
Beijo

Porcelain disse...

Se te arrasta é apenas um estado de inconsciência mascarado do contrário... o teu massacre vem do que falta compreender e não do que já compreendes... é o que te falta descobrir que te arrasta pelos caminhos da dor, da noite, da escuridão, dos sentidos proibidos e dos becos sem saída...

As palavras sem sentido esvoaçam e atormentam, entretêm o teu entendimento dando-lhe tanto que fazer... fogem para os cantos pois não compreendem de que forma encaixar umas nas outras... os sons que ouves parecem escarnecer da tua dor, mas são de dor também eles, pois sabem que seria suposto encaixarem e, ainda assim, por algum motivo misterioso, são incapazes de o fazer... a teia que tu própria teceste vira-se contra ti... como é possível, detestar-me-ei assim tanto para me auto-inflingir dor desta maneira? Não há no mundo motivo de ódio tamanho que justificasse tal dor...

Ajudaria quem sabe se o espelho dos olhos dos outros te devolvesse a imagem tenebrosa de uma figura indefinida e sem rosto, esquisita o suficiente para que ninguém a quisesse por perto... talvez isso te lembrasse da beleza que trazes dentro de ti e não ao contrário...

O querer queima por todo o lado, não poupando nem as asas dos anjos... cheiro a queimado depois da luta, da bulha de palavras, anjos, fantasmas, demónios... não é só fugir da dor... é enfrentá-la... e quem a enfrenta, vence-a, um dia.

Para que a luta seja vencida, anjos negros e anjos brancos necessitam dar as mãos... os anjos brancos necessitam da invisibilidade dos anjos negros, que se confundem com a noite e enganam os incautos, porém... enganar por vezes é necessário.