...ainda não despertei mesmo sabendo enquanto sonho que o devia fazer. Prendem-me as sombras do húmus que se alimenta de mim e morro nascendo em cada poro de terra húmida e negra convulsiva nas inúmeras direcções da vida. Disperso-me em extensões infinitas de raízes molhadas que chegam a todo o lado excepto a mim. Limito-me a ficar ali. Somente ali entre a terra e o céu, entre a escuridão e a luz, entre a dúvida e a certeza, entre a apatia e o movimento. Resto em formas vagas de indecisões.

4 comentários:

Serenidade disse...

E que nas teias vagas da indecisão, consigas vislumbrar a luz que te irradia, dia pós dia, e que vem bem lá do alto do céu onde todos pertencemos.

Serenos sorrisos

bono_poetry disse...

basta o caminho...entre penedos sombrios...rochas graniticas seculares de passagens por mil e uma vidas...o inclinado do trajecto...os passos lentos...os recuos constantes na adversidade...as lutas de viajante sem destino...e isto a vida?NAO!!!este e o caminho que ela faz!!!

Susana Júlio disse...

Então não basta esse caminho e não será esse caminho porque os meus passos andam ao contrário enquanto disparo o corpo para a frente de mim mesma e dos outros sem sequer olhar para trás. E sei que o devia fazer...todas as vidas que deixei para trás tentaram ensinar-me algo para desta vez saber caminhar nesta mesma vida...séculos após séculos a única sombra que não esqueci foi apenas a do fogo...

Porcelain disse...

Quem manda naquilo que devemos? O dever... diz-nos a razão... mas a razão percebe por vezes tão pouco... seria bom que percebesse um pouco mais... percebesse ela o suficiente para nos libertar das sombras e não seria a dever a dizer-nos que acordássemos... soubesse ela o suficiente para nos explicar o motivo pelo qual precisamos morrer e voltar a renascer... pudesse a morte transformar-nos o suficiente para definir as nossas indecisões...

Os recuos constantes perante a adversidade, sem aparente destino, são os caminhos que a vida toma, mas que lhe retiram o sentido, quando ela não deixa perceber para onde nos leva... e se conseguíssemos ver mais além? E se conseguíssemos vislumbrar o ponto de chegada? As adversidades assemelhar-se-iam a desafios necessários para chegarmos ao nosso sonho... da vida é o caminho que ela faz, mas a vida é sobretudo a compreensão dos ciclos, das sucessões, das transformações... vivemos para compreender...