...estou assim como quem à espera que o tempo passe mas sem saber se o que passa é ele ou sou eu nas mãos da vida que aportaram suavemente ao cais parado de onde se soltam as futuras ilhas da solidão...


...deito-me dentro de mim mesma debaixo do grito surdo que me envolve dos pés à cabeça e sinto o frio que arranha as costas do calor que faz lá fora e enquanto o último se volta eu escondo-me debaixo da almofada de gelo...sinto-me a Rainha do Inverno no meu próprio reino abandonado...


...as horas soltam-se do meu cabelo, dos meus dedos, do meu corpo, da pele húmida, da alma lânguida, do tempo sem fim materializado em mim, rosto de menina-mulher, de face dupla, asas negras e brancas enquanto espera a redenção e a crença abençoa a sua falta de fé e ri de todo o sistema inventado pela humanidade...da qual parece fazer parte... ...não acreditem em mim que eu também não...

...trago o sangue original da eternidade congelado nas veias do mundo e de cada vez que este corre e circula paro em segunda fila e não deixo passar mais nada, mais ninguém, nenhum pensamento ou emoção...o bloqueio sou eu nas mãos que trazem de um lado o crucifixo e do outro o punhal...que a lança há muito que se perdeu...


...a minha demanda toma-me em espirais elípticas que me afastam do sentido verdadeiro da questão. Entretanto, perco-me na memória apagada da dita questão e o momento assemelha-se a vazio enquanto olho para as profundezas deste ser que se desmancha em armadilhas de palavras...


...o que poderá ser esta questão?!..

4 comentários:

João C. Santos disse...

bom texto...

a questão de uma pergunta em que a falat de um espelho sobre a pele não deixa, ou permite, o abrir dos olhos d´alma...

a menina mulher que existe está sobre camadas e camadas de pele de todas as noites solitárias...

tanta gente, nenhuma palavra...

Anónimo disse...

...triade da composicao humana...
...gosto de questoes e desafio'me...respostas que sao perguntas mais...valida'se o ser por suposicoes...irradia'se por inoperante resposta?...constato em mim um inquirir mais permanente...leio'te e prendes as tuas questoes as minhas...qualifico'as e devo organiza'las...abstraio'me por instantes...

Porcelain disse...

O tempo é uma ilusão... mais uma das que o Homem criou, ou das que criaram para que o Homem não se perdesse mais do que já estava... um referencial, como eu estudei em física e como todos os referenciais de um ser humano um referencial que pensamos ser absoluto durante um... tempo (passo a redundância) mas que nem ele que parece ser tão tirano, tão inflexível, tão absoluto... ou não indicassem as contas da matemática que atravessada a barreira da velocidade da luz isso do tempo comece a funcionar de forma diferente... eheheh, se nós andarmos à velocidade da luz, teremos tempo para tudo, pois então!! :-DD Ora, ALbert, Albert, mas que grande descoberta a tua... tanta física e tanta matemática...

:-)

Mas quem passa na realidade devemos ser nós... digo eu.

Passamos nós, passo eu... ou não passo... o tempo passa e eu não passo... eu não passo nas mãos da vida que brutalmente me prende a um cais parado contra a minha vontade...

Um cais parado de onde se soltam ilhas que logo se transformam em ilhas de dor e de solidão...

Ao som do calor que faz lá fora, o frio gélido dentro de mim sufoca-me... e um grito surdo envolve-me dos pés à cabeça enquanto estou deitada dentro de mim mesma observando o caos... o caos de mim mesma...

Sinto-me a Rainha do Inverno no meu próprio reino de caos... abanado em vão por mim... em vão por mim trabalhado... em vão por mim sacudido... mas sempre sempre com a mesma e imutável aparência de abandono...

As horas soltam-se de mim, dos outros, do relógio e sempre o mesmo silêncio... sempre o mesmo vazio... antes preferia a dor... ou talvez não...

Aguardo a redenção... não de mim, pois nem responsável pelos meus próprios pecados me sinto... aguardo a redenção de quem me colocou no meio de um jogo que eu não escolhi jogar... e a crença e a fé naquilo que nunca vi mas que acredito que exista são a minha única esperança...

Porque motivo fiz tanta questão que acreditassem em mim quando eu mesma andava à deriva... andava à deriva e não sabia... julgava saber o caminho...

É melhor gritar alto: não acreditem em mim que eu também não... é mais seguro assim, pois eu já não sei em que acreditar...

O bloqueio sou eu... que olho o mundo desmoronar-se ao meu redor, que pareço arrastar comigo demais inocentes... voluntários, pois sentem a sua própria queda como sua... e assim é...

Ouve... quando na teia de ariana falei em espirais de elipses juro que ainda não tinha lido isto... foi uma ideia que me surgiu enquanto lia o anjos e demónios... credo, a gente é mesmo assim!!

Isto está-nos sempre a acontecer!!

:-)

A minha demanda torna-me em espirais de elipses... que me aproximam do âmago da questão... agora que pareço estar perto do auge, compreendo que tudo o que tenho a fazer é escorregar pela minha própria espiral para compreender... até chegar ao fundo onde está e sempre esteve toda a verdade... no início...

A questão, as questões, as eternas questões... são aquelas para as quais a tua alma exige resposta...

Cruztáceo disse...

Não querendo cair no abismo, nem cair perante dimensionalidade da fisica, queria apenas agradecer-vos os comentários. Um bem-haja e um xi!